A Verdadeira Sabedoria

Não se deleite quando lhe mostram respeito. Se menosprezado, não manifeste ira. Sua sabedoria é vasta como um oceano. Essas são as marcas que distinguem o verdadeiro sábio.

Do Sutra sobre os Princípios das Seis Paramitas

 

Como costumam dizer os budistas, existem três apegos mundanos que cada um de nós deve superar para ter pleno êxito na prática. O primeiro é o apego à fama; o segundo, à riqueza; e o terceiro, ao respeito. Para a maioria das pessoas, vencer o apego à fama e a riqueza não constitui trabalho tão árduo quanto superar o apego ao respeito.

Nosso desejo de respeito é um instinto animal básico. Mas que isso, é preciso reconhecer também que esse desejo jaz em nossas profundezas, sendo fundamentalmente animalesco.

O Shastra Mahaprajnaparamita descreve o Buda da seguinte maneira:

Mesmo que maldade e calúnias lhes fossem dirigidas, o Buda permanecia livre de pensamentos nefastos. Mesmo que louvores e respeito lhe fossem dirigidos, o Buda permanecia intocado pelo prazer e pelo deleite. Ele olhava tudo com magnificente compaixão, considerando a amizade e a inimizade uma só coisa.

O desejo de ser respeitado é produto, em parte, de impulsos sociais saudáveis, que são as forças motivadoras subliminares ao nosso aprendizado, a nossas amizades, a nossa profissão e até ao nosso desejo de estudar o Dharma. O Budismo é uma religião, cujo aprendizado evolui gradualmente. Muitas verdades que ele elucida só podem ser entendidas quando compreendemos que a própria verdade tem vários níveis. Não existe nenhuma regra geral aplicável a tudo; a vida é complexa demais para isso. Nossa necessidade de respeito deve ser compreendida como algo constituído de vários níveis.

Se não sentíssemos essa necessidade, talvez tivéssemos seque aprendido a falar e certamente não teríamos desenvolvidos os modos de conivência mais básicos. Esse é o primeiro nível do nosso desejo de ser respeitados, e seus resultados são quase sempre bons. O segundo nível dessa necessidade começa a ser manifestar quando passamos a competir com os outros: primeiro queremos ser tão bons quanto eles, mas não demora para querermos ser melhores. Esse nível mescla aspectos positivos e negativos. O desejo de competir gera efeitos positivos se for bem controlado; senão, eles podem ser desastrosos.

O terceiro nível do respeito é o início da sabedoria. Aqui começamos a compreender o que é respeito de fato e de onde vem nossa necessidade de ser respeitados. Com esse conhecimento, percebemos que também de que tal desejo é fundamentalmente vazio. Avançamos nesse nível, em um primeiro momento, pela contemplação do passado e, depois, pela contemplação da alegria atemporal do Buda interior.

Aprendemos quando, ao contemplar o passado, refletimos sobre momentos na vida em que ansiamos por respeito e fizemos algo nocivo para obtê-lo. Será que agiríamos do mesmo modo agora? Se nossa resposta for negativa, significa que conquistamos um espaço do qual poderemos analisar nosso atual desejo de respeito. Se formos capazes de ver o vazio do passado, provavelmente conseguiremos perceber também o vazio presente. Se conseguirmos ver o vazio de nosso atual desejo de respeito, nada poderá limitar nossa capacidade de contemplar a perfeição do Buda interior. Um vislumbre dessa perfeição eliminará qualquer impureza remanescente.

 

Não se ira quando menosprezado

O Shastra Mahaprajnaparamita diz:

As pessoas comuns se enraivecem quando se sentem usadas e se alegram quando e sentem favorecidas. Quando estão em um lugar assustador, ficam com medo. Aquele que deseja se tornar um bodisatva deve adir de forma diferente. Mesmo que ainda não tenha rompido todos os grilhões que o aprisionam a este mundo, precisa aprender a se controlar praticando a paciência ante os insultos, não se zangado quando mostras de respeito e não se amedrontando com os sofrimentos e atribulações deste mundo.

À medida que progredimos no budismo, o comportamento ideal do bodisatva vai se tornando mais claro em nossa mente. Mesmo sendo ainda afetados pelas dificuldades e adversidades deste mundo, conhecemos o ideal a ser alcançado e, assim, aprendemos a criar um distanciamento entre os problemas e nós. Dispomos de um parâmetro de comparação mais elevado do que aquilo que estamos acostumados a ser e, em consequência, aprendemos a nos aperfeiçoar. Cada passo nesse caminho traz imensas recompensas e aquele que der dois ou três passos jamais voltará atrás.

Quando os meios levam a uma consciência superior, aprendemos que não ha diferença entre eles e a meta. Segundo o Sutra Diamante:

Homens e mulheres bondosos que perseveram na recitação e na leitura deste sutra: tenham em mente que, se conseguirem tolerar insultos nesta vida sem se zangar ou contrariar, todos os maus carmas remanescentes de encarnações passadas serão eliminados e logo alcançarão o anuttara samyak sambodhi [a iluminação sublime].

Ninguém pode evitar totalmente os insultos neste mundo. As condições de nossa época e lugar violento. Em vez de permitir que essas condições enfraqueçam nossa determinação de melhorar, deveríamos utilizá-las como oportunidades para fortalecer nossa prática do Budismo. O Buda nunca nos pediu para fugir do mundo; ele nos ensinou a compreende-lo e lidar com ele. Se for inusitado, procure entender as condições que produziram o insulto e use de compaixão para resolve-las. É assim que evoluímos.


Sabedoria vasta como um oceano

O Sutra Mahaparinirvana afirma:

Sofre muito quem considera que tudo é culpa dos outros. A pessoa que compreende que sua realidade é produzida por ela mesma aprende a paz e a alegria. O orgulho gera a violência e o mal. Quem é verdadeiramente bom vê todas as coisas com amor e compreensão.

É preciso muita sabedoria para compreender que o mundo inteiro é uma criação da mente.

O Sutra Saddharma Smriti Upasthana diz: “A sabedoria é o mais doce orvalho, o mais tranquilo refúgio, o melhor amigo e o maior dos tesouros”. A sabedoria permite-nos dar continuidade ao nosso aprendizado, mesmo que assolados por todos os tipos de dificuldades. É necessário ter fé para alcançar o Budismo, mas é preciso sabedoria para se tornar um Buda.

O Sutra Avatamsaka aconselha: “Refugie-se no Darma, faça o voto de salvar todos os seres sencientes, estude os sutras profundamente e assim conquistará sabedoria tão vasta quanto um oceano”.

A sabedoria é adquirida pelo estudo do Darma e pela contemplação da pureza inerente ao Buda que está dentro de você.

Todos os monges e todas as pessoas
progridem pelo estudo do Darma.
sentados ou andando,
leem e recitam este sutra.
Mesmo que estejam em uma floresta,
sentados sob uma árvore e
concentrados em meditação profunda,
aqueles que seguirem este Sutra
sentirão um perfume no ar
e saberão que o Tathagata está próximo.

– do Sutra Lótus